Blog do Gomes

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quinta-feira, 21 de abril de 2011

Renovar para viver



Renovação. Palavra que sintetiza novos sonhos, novos rumos, outras descobertas, ideias e conquistas! E é muito bom que a renovação aconteça. Afinal, planejar novos alvos, abrir-se para observar o diferente, reconhecer que há algo errado onde antes havia a certeza de que tudo estava certo e descobrir novas vivências são sinais de que a vida está acontecendo. O cantor e compositor Raul Seixas expressou tal sentimento em uma de suas músicas: “Prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.”
O que não se pode esquecer é que o novo só nasce quando o velho cede espaço. É necessário se despedir daquilo que não serve mais, mesmo que seja algo que cooperou para as novas aquisições. Acontece que agarramo-nos rigidamente a ideias, experiências e coisas herdadas, adquiridas – as boas e as más. E acostumamo-nos até com aquilo que nos prejudica, ao mesmo tempo em que rejeitamos o novo sem a devida reflexão e julgamento para avaliar que o preço a ser pago vale a pena. Assim, negamos a nós mesmos as novas vivências que poderão enriquecer nossas vidas
Na Bíblia, temos o exemplo dos hebreus, que estavam sendo explorados, escravizados e torturados havia séculos pelos egípcios. A libertação chegou sob a liderança de Moisés, que os conduziu pelo deserto em direção a Canaã. Nas primeiras dificuldades da caminhada, entretanto, boa parte do povo começou a reclamar e a sentir a falta das coisas que ficaram para trás, nos tempos da escravidão. O povo ansiava por alhos, cebolas e melões – enquanto que, mais à frente, ficava a terra da qual, segundo lhes prometera o Senhor, manava leite e mel.
Esse episódio é uma boa ilustração da necessidade que temos de renovar muitas áreas da nossa vida. Quando o velho perde o sentido, temos a escolha de caminhar em direção ao novo. Mas, entre a comodidade do antigo e a estranheza do novo, há o deserto do nada, que é o esvaziamento do que tínhamos antes. Enquanto mantemos os olhos naquilo que não tem mais valor e perdeu o sentido, desprezamos a oportunidade de conhecer e experimentar o que chega. Sim, é preciso deixar o que morre para poder desfrutar do que nasce.
Renovar é um processo que deve fazer parte de toda a vida. O bloqueio das descobertas começa, em geral, na infância, quando as crianças são censuradas duramente por experimentar novos caminhos. Adultos, zelosos em extremo, não permitem aos filhos o risco dos erros da experiência; ou então temem tanto os possíveis acidentes, comuns na infância, que exageram no cuidado, coibindo todo e qualquer comportamento um pouco mais ousado. O menino é criticado por ter subido a um muro, por causa do risco de cair e, quem sabe, quebrar uma perna. Ou então uma garota é punida porque desmontou a boneca por pura curiosidade de conhecer o mecanismo dentro dela. No entanto, as ações típicas da infância só indicam que há um desejo de explorar e conhecer novas coisas, adquirir outras informações.
Há ainda os adultos impacientes que não aguentam esperar o tempo necessário para que o iniciante execute sua tarefa, aprendendo por si mesmo. Crianças e adolescentes que sofrem este tipo de proibições podem se tornar adultos presos, formatados ao que é estabelecido pelos outros. Ou, então, partem para outro extremo, rejeitando, junto com o que é nocivo, todas as boas coisas antigas recebidas e que deveriam ser perpetuadas. Assim, entram no desconhecido sem o devido cuidado, pagando alto preço, sem contar que ainda correm o risco de percorrer caminhos que levam a danos para toda sua vida, sem a possibilidade de retorno e acertos.
Maturidade emocional requer que o indivíduo faça uma avaliação de tudo que foi recebido, julgando por si o que precisa ser descartado e o que deve ser perpetuado. Quem é capaz de filtrar o que lhe chega e ir construindo seu caminho de acordo com as próprias avaliações terá também recursos internos para ouvir, ver e refletir acerca de novas perspectivas, ideias e descobertas. E, ainda que sinta-se inseguro, saberá, sozinho ou com o conselho de outrem,  escolher o que deve fazer parte de sua vivência.
Que novos alvos, condutas, atitudes e aquisições possam acontecer na vida de cada um de nós. E, se acontecer o fracasso, que haja coragem para reconhecer que o insucesso é apenas uma boa coisa que não deu certo – e que vale a pena recomeçá-la de outro jeito.

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